terça-feira, 3 de abril de 2012

ENTREVISTA: TITE

Tite se tornará em breve o sétimo técnico com mais jogos no comando do Corinthians com 145 jogos completados no último domingo. Pode terminar 2012 como o quarto na lista centenária e a forma como ele comemora seu feito é a mais espontânea possível. Soltando um “P* que pariu”.

Com essa expressão popular, cada vez mais comum na sua rotina no clube, que o treinador respondeu uma das perguntas desta entrevista exclusiva ao iG. Ele assume o estilo desbocado. Deixou para trás o discurso polido e politicamente correto, para ser mais natural. “Isso é sinal de maturidade”, argumentou.

Nesta entrevista, Tite falou dos dias mais leves no clube desde a saída de Adriano, deu uma cutucada em Kia Joorabchian, responsável pelo fim da sua primeira passagem pelo Corinthians em 2005, e se colocou entre os melhores técnicos da sua geração.

Na conversa, dois dias antes da partida de domingo contra o Oeste, o treinador falou ainda da sua opinião sobre a presença de mulheres em jogos masculinos. Em 2005 ele disse que árbitras não deveriam apitar jogos masculinos. "A questão é física, não técnica. Não é preconceito", disse. Há sete anos, na última partida de Tite no Corinthians (derrota por 1 a 0 para o São Paulo) Silvia Regina apitou o clássico e teve atuação controversa. A Federação Paulista não usa mais mulheres para apitar jogos de primeira divisão. Elas atuam apenas como auxiliares.

Leia a íntegra da entrevista de Tite para iG

iG: O que mudou no Corinthians após a saída do Adriano?
Tite: O que tem agora é uma atenção maior aos três centroavantes que permaneceram (Liedson, Elton e Bill). Eram quatro e agora são três. Mas ambiente de grupo, relação de respeito aqui não mudou. Ele é um atleta que era fácil lidar no dia a dia. E o relacionamento dele com o grupo de jogadores também sempre foi de muita cordialidade.

iG: Mas está o trabalho está mais leve? Sem pressão, sem as constantes perguntas sobre o Adriano para tirar o foco do campo?
Tite: O campo que é a essência está normal. Mas nas coletivas, sim. Está mais ameno. As perguntas que vinham muito em relação ao Adriano. Vinham bastante. Era um desgaste, mas algo natural para um jogador do porte dele. Eu queria continuar respondendo, mas só se ele estivesse bem aqui. (Nota da Redação: Tite foi orientado pelo departamento jurídico do Corinthians a não pormenorizar sobre os problemas que levaram o jogador a sair do clube. Ele foi demitido por justa causa e promete processar o clube)


Foto: AE Ampliar
Tite foi orientado a não falar de Adriano para não atrapalhar uma eventual batalha na justiça
iG: Sem o Adriano, Bill vira terceira opção de centroavante. Ele está em fim de contrato (termina em maio). Você não quer mais um jogador para posição?
Tite: O técnico trabalha com aquilo que lhe é disponível, compete a mim qualificar quem entrar no campo e jogue. Sei das dificuldades que têm para manter um jogador, há toda uma negociação, mas eu não sou manager. Eu não consigo me ver assim de falar contrato. Isso é mais de gente que está ligada ao Corinthians, que sabe da origem do clube, que ama o clube, que respira o clube e tem ele no sangue. Por isso que eu não acreditava nessa história de Kia (Joorabchian, chefe da MSI, ex-parceira do Corinthians entre 2004 e 2006, e que controlou o futebol do clube nesse período. Foi Kia quem demitiu Tite em 2005, após derrota para o São Paulo, quando Tite escalou Coelho e não Tevez para bater um pênalti). Em nenhum clube no Brasil essa história iria para frente com alguém de fora. Tem de ter o clube na pele. (Após a resposta, Tite pediu para que não falar mais de Kia).

iG: Falando em ter o clube na pele, você sempre disse que para jogar no Corinthians o jogador precisa "ralar a bunda no chão". O Douglas, porém, logo quando chegou disse que aprendeu a dar carrinho durante sua passagem pelo Grêmio, mas que no seu retorno ao Corinthians ele não prometia repetir isso. Ele precisa "ralar mais a bunda" no chão para ter mais chances?
Tite: O Corinthians é assim. O torcedor corintiano exige assim. Não falei para mudar a característica, mas acrescentar. E ele tem sido receptivo com isso. E ele conhece o Corinthians. O torcedor admite erro, mas não admite falta de competitividade. Ele não abre mão do sangue, ele não abre mão do suor, da entrega, da doação. Depois ele (torcedor) tem até paciência com o erro que você cometeu. Mas ele (Douglas) mostra que está integrado nesta característica.

iG: Mas essa questão de não ser tão marcador o atrapalha na concorrência com Danilo e Alex. por exemplo?
Tite: O Douglas vai estar competindo sempre. É um jogador de talento, com os treinos ele vai melhorar, vai retomar esse ritmo. Eu já enfrentei o Douglas e eu não quero dele um grande marcador, mas só uma retomada na marcação. (N.R. Contra o Oeste, Douglas foi titular pela primeira vez ao lado de outros titulares. Foi substituído por Willian no segundo tempo).


Técnicos que mais dirigiram o Corinthians Número de jogos*
1º) Oswaldo Brandão (1954-57, 64-66, 68, 77-78 e 80-1981) 439
2º) José Castelli "Rato" (1942, 1951 - 54) 256
3º) Amílcar Barbuy  240
4º) Nelsinho Baptista (1990-1991, 1996-1997 e 2007) 192
5º) Mano Menezes (2008 - 2010) 185
6º) Armando Del Debbio (1939 a 1942, 1947, 1948 e 1963) 177
7º) Jorge Vieira (1979 e 1983) 147
8º) Tite (2004-2005, 2010 - presente) 145
9º) Vanderlei Luxemburgo (1998 e 2001) 139
10º) Sylvio Pirillo (1959-1960, 1974-1975) 124
*Fonte: Almanaque do Corinthians, de Celso Unzelte

iG:  Você já somou 145 jogos no Corinthians e é está perto de se tornar o sétimo treinador com mais jogos no comando do clube. Já deixou Luxemburgo para trás. Se cumprir seu contrato até o final, chegando às finais, poderá ser o quarto da história (veja a tabela acima). O que essas marcas representam depois de toda pressão que sentiu em vários momentos do ano passado?
Tite: Posso sintetizar? Puta que pariu! Pô, cara. Um puta que pariu resume tudo. A grandeza do Corinthians, a responsabilidade que tem, os resultados para permanecer, o título que tem que ter para durar num clube. Com exceção da Libertadores (queda para o Tolima), disputamos títulos em todas as competições, chegamos à final do Paulista, disputamos e ganhamos o Brasileiro ficando 30 rodadas na primeira colocação. Um técnico para conseguir ter essa sobrevida num clube precisa ter resultados importantes.

iG: Você resumiu com um palavrão os seus números no Corinthians. No Sul, quem te conheceu no Caxias, no Grêmio, no Inter e até mesmo na sua primeira passagem aqui no Corinthians, não conhecia esse seu lado desbocado. Hoje você está mais solto, solta palavrões naturalmente, não liga para o que vão achar. O que aconteceu? É media training?
Tite: Maturidade. O tempo vai dando isso pra gente. O aprendizado é muito prático, menos teórico e mais prático. À medida que você vai rodando nos clubes, vai tendo experiência das vitórias, das derrotas, vê as reações das pessoas, essas coisas saem naturalmente. Esse é meu lado humano. Lado da vibração. Lado de quem fica chateado. E que como todo mundo fala palavrão. Não é o lado do profissional frio. Eu sinto. E assim eu consigo mostrar esse meu lado. Não falo de forma pejorativa. Se falo puta que pariu aqui o cara em casa fala a mesma coisa. Tem um sentido. O puta que pariu que eu falei ali é pra engrandecer. “Pô! Que grandeza é o fato que me apresentou e que eu não tinha me tocado”. Essa é a dimensão.

iG: Você já irritou com as críticas aos placares magros dessa temporada e que vêm desde o ano passado. Comparado com técnicos recentes com longo período no clube, como Parreira (2002) e Mano Menezes você é quem tem a maior porcentagem. Por que acontece isso? Você já encontrou uma explicação? 
Tite: Cada momento tem sua história. No Brasileiro do ano passado todas equipes venceram a maioria dos seus jogos por um gol de diferença. A margem era sempre de um gol na média. Era pelo equilíbrio do campeonato. O Fluminense, o segundo time que mais venceu no Brasileiro, venceu 20 jogos e 14 foram por um gol (de fato foram 12. O Corinthians campeão venceu 21 jogos e 17 foram por um gol). Neste ano a cobrança é justa por causa do nível técnico (do Campeonato Paulista). E principalmente pelas oportunidades que nós temos criado e não temos transformado em gol. Nisso é justa essa crítica. Do ano passado não. Esta equipe mesmo assim não é de fazer 1 a 0 e ficar lá atrás. Ela tem criado, mas ela tem pecado na finalização e aí sim a crítica vale por fazer resultados com poucos gols.

iG: O Abel Braga, sempre citado por você entre os melhores técnicos do Brasil, também se irritou com a cobrança no Fluminense por placares mais largos e citou você. Se continuarem assim, os dois fazem a final da Libertadores.
Tite: (risos) Eu vou dizer. Tem que ganhar de 1 a 0 e jogar bem. Depois de ganhar de 1 a 0 tem que ganhar de dois. E se for três, tem que golear. Essa é a lei natural da bola. Não dá para fugir disso

iG: Você se coloca entre os melhores técnicos do Brasil ou pelo menos dos da sua geração?
Tite: Eu tenho o meu conceito mas não falo. Eu só ouço. Tenho meu conceito bem claro na minha cabeça, muito bem elaborado, com discernimento muito forte. Peguem os técnicos da minha geração, veja os trabalhos que fez, veja os títulos que tem e aí você vai ter a resposta. Quem está ouvindo ou lendo essa entrevista vai entender. Busca as referências, busca onde passou, busca que trabalho fez, vê quanto tempo tem, vê números de jogos que tem, vê performance, vê títulos. Vê a idade, quem está mais na frente, a minha geração. E aí cada um vai ter sua própria opinião.

iG: Na sua primeira passagem pelo Corinthians você disse que mulheres não deveriam apitar jogos de time masculinos de alto nível. Você mudou de opinião?
Você já viu alguma mulher apitar jogos masculinos? Jogos de alto nível? Não mais. A exigência física é diferente. Isso não é sexismo, preconceito. A velocidade do jogo é muito grande. Diminuíram as idades dos árbitros em função disso. Árbitros como o Leonardo Gaciba, que virou comentarista, não suportaram a questão física. Isso é só para mostrar o quanto é alto o grau de exigência. É biológico. Eu sou formado em Educação Física. Uma mulher não tem a mesma capacidade física e aeróbica e nem a mesma força. Não estou discriminando. Acho que em jogos femininos tudo bem, acho que podem até seguir sendo auxiliares (em jogos masculinos), pela capacidade de concentração, mas pela exigência da arbitragem, acho que podem prejudicar (como árbitros principais de jogos masculinos)
créditos: IG

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